quinta-feira, 21 de julho de 2011

EXCLUSIVO:
Da ferrovia a corrupção e sem piedade ao Piquiá.  
“O prejuízo é público e o lucro é privado”.


Por Wallikson Barros

Já não é mais coincidência que tudo aqui neste país é de fato montanhas de entulhos debaixo dos tapetes vermelhos. É quase impossível não ver as falcatruas, os mandos e desmandos da nossa excelentíssima política brasileira e das impenetráveis indústrias do ferro. As raposas estão soltas no galinheiro! Quem irá caçá-las? A corrupção ainda é farta no Brasil seja na política ou nas grandes empresas (os grandes leões), que usam de suas boas intenções para tentar enganar a população mais humildes com migalhas ou até mesmo com a compra do silêncio. Como diz o ditado popular: “De boas intenções, o inferno está cheio.”.
A Revista ISTOÉ (13 de julho de 2011, nº 2174 - pág. 43) teve acesso aos relatórios atualizados do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a lista obras com irregularidades graves no país. Este relatório informa que mais de seis trechos da ferrovia Norte-Sul está com superfaturamento conforme o órgão fiscalizador. Segundo o Tribunal a ferrovia é um dos maiores símbolos da corrupção do país. A estrada começou a ser construída há 24 anos e já nasceu torta. As fraudes vêm desde as licitações da obra onde as empreiteiras de todo o Brasil fizeram acordos para demandar qual lote cada uma ficaria e com a que preço cobraria a seus “esforços serviços”. A Polícia Federal confirmou preços 20% acima dos de mercado em diversos trechos da construção. Só no trecho de que correspondem às cidades de Aguiarnópolis (TO) a Palmas, os valores excessivos somam mais de R$ 500 milhões. No total já foram gastos R$ 4 bilhões no trecho de Anápolis(GO) a Palmas(TO) e de Palmas a Açailândia(MA), resumindo 1,3 mil quilômetros de ferrovia construída.

Mas não precisamos ir tão longe para vermos a corrupção e as atrocidades com o nosso povo. A poucas dezenas de metros do povoado de Piquiá de Baixo, município de Açailândia há 70 quilômetros de Imperatriz. Instalaram-se no final da década de 80, quinze altos-fornos siderúrgicos, aos quais seguiram três usinas termelétricas e, mais recentemente, uma aciaria e uma fábrica de gases. Pertencem às empresas Gusa Nordeste, Viena Siderúrgica, Ferro Gusa do Maranhão, Simasa e Pindaré (essas últimas duas do grupo Queiróz-Galvão). A Vale S.A. fornece minério de ferro às siderúrgicas e transporta o produto delas para exportação, tendo seu pátio de carregamento e descarregamento no próprio Piquiá.
Cercadas por esse grande polo industrial, 356 famílias do povoado sofrem um grave impacto socioambiental, em boa parte desde o começo dos empreendimentos, morando na região antes da instalação das empresas. Edvar mora em Piquiá, na periferia de Açailândia no Maranhão. Ele diz em sua carta escrita ao seu neto Moisés que, seu sonho é vê-lo crescer em um local saudável e limpo. “Meu sonho sempre foi sair daqui. Claro,
cheguei antes das siderúrgicas e teria direito de ficar em lugar delas. Mas essas firmas são poderosas demais e no começo não conseguimos levantar a voz nem impedir que se instalassem. Elas escolhem os lugares onde o povo é mais fraco, nos convencem com promessas vagas de trabalho e riqueza, e assim fazem a cabeça dos demais.”, ele continua: “Pouco tempo depois, uma enxurrada de eucaliptos chegou a invadir os nossos quintais e cercaram o povoado. Era a chamada „cortina verde‟, para -dizendo eles- proteger as casas da poluição. E assim, entre fumaça e esses palitos de eucalipto, aprendemos que as firmas gostam de levantar 'cortinas' e esconder-se atrás delas.”, finaliza indignado.

Um relatório de perícia ambiental, realizado pelo biólogo e pesquisador universitário Ulisses Brigatto em 2007, fornece suficientes informações a respeito desse impacto. Nela, ele relata que o impacto vai alem de poeira e fumaça vinda das siderúrgicas. O processo de combustão e síntese química do ferro com carvão produz gases (CO2 e CO) emitidos pelas chaminés das empresas, são responsáveis pelo aquecimento global. A água captada no ribeirão Piquiá que é utilizada para reduzir a temperatura dos altos-fornos, é devolvida ao rio aquecida e com resíduos de ferro. A drenagem das chuvas também leva o material disperso no pátio das empresas até o mesmo rio dando um resultado nada favorável à vida animal, vegetal e principalmente humana. Os resíduos sólidos da produção não são inteiramente tratados e reciclados, sendo abandonados em pátios ao ar livre. Concentrando altos teores de calcários, podendo gerar problemas de alcalinização e intoxicar plantas, animais e pessoas. O depósito de escória (resíduo que se forma junto com a fusão dos metais.) provocou vários acidentes de queimaduras de animais e pessoas. Uma criança de Piquiá morreu em 1999 por queimaduras graves, tendo caído até a bacia no amontoado de resíduos incandescentes num dos pátios da empresa Gusa Nordeste. A instalação das termoelétricas aumentou os ruídos permanentes que ressoam no povoado dia e noite, tornando-se às vezes insustentáveis e atrapalhando o descanso da população.
Devido a tudo isso, o impacto sobre a saúde dos moradores é evidente e inegável principalmente na manifestação de problemas como: dor ou problemas na garganta, tosse, fluxo nasal ou dor de ouvido, dificuldades para respirar, problemas de vista, irritação nos olhos ou lacrimejamento.
O Estado foi o promotor dessa economia e ainda hoje favorece um desenvolvimento unicamente baseado nos grandes projetos, oferecendo incentivos fiscais e financiamentos para novos investimentos, mas permanecendo cúmplice e corresponsável pelo impacto socioambiental. De fato, a fiscalização dos empreendimentos e a disponibilização ao público dos dados de monitoramento são extremamente precárias; ao mesmo tempo, as licenças ambientais acabam sendo concedidas com facilidade e, em alguns casos, sem as suficientes condições, como demonstra o recente licenciamento para a duplicação da Estrada de Ferro Carajás. Também o Município de Açailândia é corresponsável por mais de vinte anos de conivência com essa situação, renovando anualmente os alvarás de funcionamento das
guseiras, sem cobrar ou realizar monitoramento ambiental e sem buscar alternativas para os moradores atingidos.
Como vemos os exemplos acima, tomemos todos os cuidados para não ofuscarmos nossos olhos com toda a esta corrupção que é bem nítida neste país. É até redundante e irônico este pensamento, mas é assim que deve ser a nossa luta por nossos direitos. Sermos redundante nas nossas lutas em comuns e irônicos com os “bem feitores” do nosso grandioso país. "Vamos lutar em favor da VIDA e da Justiça!" Veja como lutar pelos seus direitos e saiba como fazer a diferença se ligando no Site Oficial da Romaria:
http://sites.google.com/site/11romariaterraeaguas/blog


0 comentários:

Postar um comentário